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TRADUZINDO O COVID-19: A PANDEMIA DE COVID-19 ESTÁ MUDANDO NOSSOS SONHOS


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A ansiedade em relação ao distanciamento social e à infecção está alterando o quanto sonhamos e a natureza de nossos próprios sonhos.
Para muitos de nós, viver em um mundo com COVID-19 é como se tivéssemos sido jogados em uma realidade alternativa. Vivemos dia e noite dentro das mesmas paredes. Temos medo de tocar nas compras que chegam à nossa porta. Usamos máscaras ao sair de casa e ficamos ansiosos se passamos por alguém que não as usa. Temos dificuldade em discernir rostos. É como viver em um sonho. Inclusive, durante a pandemia, constatou-se um aumento global no relato de sonhos vívidos e bizarros, muitos dos quais relacionados ao coronavírus e ao distanciamento social, revelando uma alteração no quanto sonhamos, de quantos sonhos nos lembramos e a natureza de nossos sonhos. As redes sociais e os meios de comunicação evidenciaram essa ressurgência da temática dos sonhos. Pesquisas recentes documentam o aumento repentino dos relatos sobre os sonhos, a impressionante variedade destes e muitos outros efeitos relacionados à saúde mental. O mundo está sonhando com a COVID-19.
Estudos atuais apontam relatos de sonhos de brasileiros adultos em isolamento social com altas proporções de palavras relacionadas à raiva, tristeza, contaminação e limpeza. Outros revelam que 45 porcento de enfermeiros tiveram pesadelos. Esse aumento na rememoração dos sonhos, exposição midiática e alteração do conteúdo pode ter sido desencadeado ou sustentado por certos contextos, como aumento da quantidade de sono REM (movimento rápido dos olhos), e ameaças de contágio e distanciamento social, que sobrecarregam a capacidade do sonho de regular as emoções. Isto somado à mídia social e convencional ampliando a reação do público.
Os padrões de sono mudaram abruptamente durante a pandemia, ocasionando níveis elevados de insônia na população em contraste à melhora do sono decorrente das ordens para ficar em casa e o trabalho em casa, que eliminaram os longos trajetos para o trabalho. Muitos passaram a lembrar seus sonhos, ou porque dormiam mais e mais tarde, e podiam ficar na cama ao acordar, ou porque acordavam à noite.
Um sono mais longo leva a mais sonhos e, proporcionalmente, ao sono de movimento rápido dos olhos (REM), que é quando ocorrem os sonhos mais vívidos e com cargas emocionais. Horários flexíveis também podem ter feito com que os sonhos ocorressem mais tarde do que o normal pela manhã, quando o sono REM é mais prevalente e intenso e, portanto, os sonhos são mais bizarros. O próprio sono passa por estágios profundos e leves a cada 90 minutos, mas a pressão para o sono REM aumenta gradualmente à medida que a necessidade de um sono profundo e recuperativo é satisfeita. 
O sonho acumula as funções de regulador das emoções e de resolução de problemas. Propõe-se também a função de facilitar a percepção social (quem está ao meu redor?), leitura da mente social (o que eles estão pensando?), bem como a prática de habilidades de relacionamento interpessoal. Isso ocorre ao consolidar os eventos do dia anterior em memórias mais duradouras, e encaixar esses eventos em uma narrativa contínua de nossas vidas. Ou repetindo fragmentos de experiências que ajudam na realização criativa. Outras funções oníricas são extinguir memórias de medo e simular situações sociais. As ameaças podem assumir a forma de imagens metafóricas, como tsunamis, alienígenas ou zumbis. Imagens de insetos, aranhas e outras pequenas criaturas também estão representadas. Essas funções podem explicar por que tantos sonhos no surto de 2020 envolvem tentativas criativas ou estranhas de lidar com um problema de COVID-19. 
Uma maneira de entender as imagens diretas e metafóricas é considerar que os sonhos expressam as preocupações centrais de um indivíduo, com base em memórias que são semelhantes em tom emocional, mas diferentes no assunto. Tal contextualização ajuda as pessoas a integrar velhas e novas experiências, e assim produzir um sistema de memória mais estável e resiliente a traumas futuros.
Fonte: NIELSEN, TORE. The COVID-19 Pandemic is changing our dreams.


Disponível em <https://www.scientificamerican.com/article/the-covid-19-pandemic-is-changing-our-dreams/>.
Acesso: 02/11/2020 (Traduzido e Adaptado)


 

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Graduação em Letras
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