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Fevereiro
25
2021

Pesquisadores da UFGD participam da elaboração de revista internacional redigida em línguas indígenas e africanas

  Atualizada: 25/02/2021
A publicação científica, que também contará com trabalhos no formato de vídeos em Línguas de Sinais, tem por objetivo abrir espaço para que idiomas minorizados sejam divulgados, principalmente, como transmissores do conhecimento científico

Imagine ser a última pessoa restante no mundo a falar um idioma. Séculos ou até mesmo, milênios de história, feitos, conhecimentos, enfim, o universo cultural de uma civilização inteira, guardados em você, como se fossem um tesouro que, mais dia, menos dia, vai perdendo valor, até ser completamente extinto juntamente com a sua existência.
 
Parece uma situação rara e hipotética, mas é a realidade de milhares de línguas em todo o planeta. Somente no Brasil, pelo menos 190 idiomas estão em risco de extinção, e, no mundo, uma perda linguística é constatada a cada duas semanas, de acordo com a última edição do Atlas das Línguas do Mundo em Perigo (2010), elaborada pela Organização Mundial das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
 
Em busca de atender a demanda desses idiomas por maior visibilidade e criar um canal para sua divulgação no meio científico, foi fundada a Revista Internacional de Culturas, Línguas Africanas e Brasileiras NJINGA&SEPÉ, uma proposta da Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) e que conta com a parceria da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).
 
Batizada em homenagem à rainha africana Njinga Mbandi e ao guerreiro indígena brasileiro Sepé Tiarajú, da etnia Guarani, a revista respeita e se embasa na Declaração Universal dos Direitos Linguísticos (1996), na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), na Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural (2002) e na Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas (2006).
 
“É o resultado de diálogos entre alguns pesquisadores que verificaram a possibilidade de se abrir um espaço para textos escritos em línguas indígenas, africanas e de sinais. Uma atitude bastante inovadora no cenário acadêmico, nacional e internacional, e que traz consigo, também, inúmeros desafios”, explica o professor Andérbio Márcio Silva Martins, coordenador do Programa de Pós-graduação em Letras da UFGD e participante do Conselho Científico da publicação.
 
A revista, que é recém-criada, está em sua primeira chamada para submissão de artigos, que podem ser textos escritos em qualquer língua africana, indígena brasileira ou timorense, e de vídeos, em línguas de sinais. No entanto, também serão considerados trabalhos escritos em línguas europeias (português, inglês, francês e espanhol), desde que abordem a temática das culturas e dos idiomas africanos, brasileiros ou timorenses.
 
O objetivo, de acordo com Andérbio, é resgatar, valorizar, proteger e divulgar as diversas línguas ditas minorizadas – por serem politicamente invisibilizadas – que nunca tiveram privilégios por meio de políticas linguísticas. “É fazer com que elas também se tornem línguas da ciência”, resume o docente.
 
Além da UNILAB e da UFGD, cooperam com a elaboração da NJINGA-SEPÉ o Instituto de Pesquisa da Diversidade Intercultural (IPEDI), do Brasil, a Universidade Eduardo Mondlane, de Moçambique, a Universidade Federal do Paraná, do Brasil, a Universidade Agostinho Neto, de Angola, e a Universidade de Cabo Verde, de Cabo Verde.
 
Pela UFGD, participam docentes integrantes de projetos de pesquisa acerca de línguas indígenas, como o Guarani, o Kaiowá e o Terena, e de línguas de sinais, como a LIBRAS e a Língua de Sinais Terena, e, também, professores voltados à temática da formação de pesquisadores dentro de grupos indígenas e campesinos. Além de Andérbio, representam a Universidade nessa parceria internacional: Adriana Sales, Hemerson Vargas Catão e Daniel Valério Martins, da Faculdade Intercultural Indígena (FAIND), e Denise Silva, da FACALE.
 
PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE
 
A UNESCO tem enfatizado a importância da diversidade linguística mundial enquanto patrimônio da humanidade, não apenas por sua variedade, mas por serem os idiomas portadores do saber ancestral de seus falantes. Pesquisas sobre o tema apontam, inclusive, que a perda linguística é mais grave que a perda biológica, por exemplo.
 
O docente Andérbio afirma, no entanto, que o número de pessoas pertencentes aos grupos de línguas minorizadas vem crescendo, o que revela um perfil de pesquisadores bilíngues em ascensão. “Apesar disso, a língua materna no cenário acadêmico se encontra, muitas vezes, apenas na qualidade de objeto de pesquisa e não como meio de produção e de transmissão de conhecimento científico, artístico e cultural”, pondera o pesquisador.
 
Ele aponta que os usuários dessas línguas passaram a ocupar novos espaços, sobretudo por meio da universidade, em cursos de graduação e pós-graduação, no desenvolvimento de pesquisas, no ensino da língua e dos aspectos culturais de seus povos e, ainda, nas ações extensionistas entre a comunidade universitária e a população do entorno. “Isso garante o lugar da língua materna, devido a sua importância para cada povo”, diz.
 
Por sua vez, o cenário da comunicação e da divulgação científica ainda não acompanha a nova realidade. O professor ilustra com um exemplo simples e óbvio, que é o da língua inglesa como sendo a “língua da ciência”. “As universidades brasileiras, inclusive, possuem políticas, projetos e programas linguísticos que estimulam o fortalecimento do inglês em termos de publicação e divulgação científica”, analisa.
 
“Contudo, conhecimentos também são produzidos em outras línguas, sobretudo em línguas indígenas, africanas e em línguas de sinais, como a LIBRAS, mas esse conhecimento tem permanecido restrito aos usuários, normalmente, aos próprios autores dos trabalhos, como pouco espaço de difusão”, alerta o docente, reforçando que é parte dessa lacuna urgente que a Revista Internacional de Culturas, Línguas Africanas e Brasileiras NJINGA&SEPÉ tentará preencher.
 
Para saber um pouco mais sobre o periódico:
http://www.revistas.unilab.edu.br/index.php/njingaesape
 
SUBMISSÃO DE TRABALHOS
 
Estudantes, professores e pesquisadores que se expressem em alguma língua indígena, de origem africana ou de sinais, ou que realizem traduções, podem submeter seus trabalhos. Os autores têm total auxílio da equipe da revista, especialmente para possíveis necessidades de reescrita. O período para submissão terminará em 31 de março de 2021.
 
Serão aceitos textos ou vídeos que descrevam e/ou analisem fenômenos históricos, culturais e linguísticos. As línguas oficiais da revista são: línguas da África, línguas do Brasil, línguas do Timor Leste e Línguas de Sinais. Qualquer texto escrito em português, francês, espanhol ou inglês deverá ser acompanhado de um resumo (250 a 300 palavras) em uma das línguas oficiais da revista NJINGA&SEPÉ.
 
Informações completas:
http://www.revistas.unilab.edu.br/index.php/njingaesape/about/submissions
 
Para esclarecimento de dúvidas e solicitação de orientações:
revista.njinga.sape@unilab.edu.br
 
Jornalismo ACS/UFGD
 

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Revista Internacional de Culturas, Línguas Africanas e Brasileiras NJINGA&SEPÉ
 




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