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Setembro
01
2023

Pesquisador da UFGD analisa os impactos da pandemia de covid-19 na fronteira entre Brasil e Guiana Francesa

  Atualizada: 01/09/2023
Um dos resultados do projeto é o documentário que analisa as consequências do fechamento da fronteira nas relações comerciais, turísticas e de saúde dos moradores

 

 

Durante a pandemia de covid-19, muitos países fecharam suas fronteiras como forma de evitar a proliferação do vírus. Como as ações do governo federal brasileiro (ou a falta de ações) diante da pandemia eram mal vistas internacionalmente, seus cidadãos ficaram, por um período de tempo, impedidos de entrar em vários países, entre eles a Guiana Francesa, coletividade ultramarina da França que faz fronteira com o estado do Amapá. 

 

Para investigar as consequências desse cenário nas cidades de Oiapoque (Amapá/Brasil) e Saint-Georges (Guiana Francesa), um grupo de pesquisadores dos dois países está desenvolvendo um projeto sobre os efeitos da pandemia de covid-19 na dinâmica de trânsito na fronteira franco-brasileira. Entre os produtos desse projeto está um documentário, disponível no YouTube, que analisa esses impactos e traz os atores locais nas áreas de comércio, turismo, saúde, segurança, entre outras.
 

Além das sequelas biológicas, sentidas no corpo, o documentário identifica sequelas econômicas e sociais. O fechamento pelo governo francês, através da proibição de travessia da bacia do Rio Oiapoque, que liga os municípios, durante aproximadamente um ano, causou muitos prejuízos ao comércio de Oiapoque, que tinha o turista francês como seu principal cliente. As comunidades indígenas também foram afetadas pela queda nas vendas de artesanato e produtos agrícolas. 

 

Fora os comerciantes, os catraieiros ficaram impedidos de trabalhar, porque era proibido levar as pessoas de uma margem a outra do rio, o que depois de certo período de tempo, passou a ser realizado com fluxo bem reduzido, na ilegalidade. Sem poder trabalhar, muitas pessoas não tinham condições de sustentar a família e passaram a solicitar cestas básicas aos órgãos públicos. 

 

De acordo com as entrevistas inseridas no documentário, a pandemia não interferiu no setor de saúde pública, porque não existia estrutura significativa de saúde em Oiapoque antes e nem passou a existir durante a pandemia. As comunidades indígenas viabilizaram o tratamento dos doentes por meio da medicina tradicional. Quando a vacinação começou a abrir a possibilidade para brasileiros que moravam em Saint-Georges receberem a imunização, quem conseguiu cruzar nos barcos, principalmente os catraieiros, driblaram o controle para receber a dose da vacina, já que no Brasil ela viria a ser disponibilizada muitos meses depois. 

 

Diferente das outras fronteiras em que o Brasil faz divisa com países da periferia do sistema internacional, a situação de Oiapoque e Saint-Georges é atípica, porque a França está no centro do sistema internacional e, nesse contexto, o tratamento que os brasileiros recebem para atravessar a fronteira é fora do comum. A fronteira franco-brasileira é a única em que o brasileiro é obrigado a ter visto para cruzar. O que, de acordo com os pesquisadores, é um tratamento desigual, tendo em vista que para entrar no Brasil basta que os franceses apresentem passaporte. No entanto, o documentário denuncia que essas questões não são prioridade nas agendas dos ministros de Relações Exteriores do Brasil.

 

UFGD

Mapa apresentado no documentário para mostrar a bacia do Rio Oiapoque, destacando as cidades da fronteira franco-brasileira.

O professor Alexandre Bergamin, do grupo de pesquisa “Saúde, Espaço e Fronteira(s)” (GESF) e docente da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), é um dos membros da equipe, coordenada pelo professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Camilo Pereira Carneiro, e composta também pelo professor da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), Gutemberg Vilhena e pelos pesquisadores do Centro Nacional de Investigação Científica da França (CNRS), Hervé Théry, e do Liceu Melkior-Garré, Stéphane Granger.

 

No documentário, o professor Alexandre Bergamin ressalta a importância de se analisar o espaço fronteiriço a partir de quem vive na área. Para ele, essas cidades estariam distantes pelas normas, mas no dia a dia dos moradores, não seriam nem França nem Brasil, mas Oiapoque e Saint-Georges articulando-se no mesmo espaço. Dessa forma, Alexandre defende a conexão das políticas públicas entre os países. “Será que em algum momento se poderá construir uma política pública de fronteira para fronteira e na fronteira? Porque hoje as políticas são pensadas por quem não vive, não está e não entende a fronteira”, questiona o pesquisador.

 

Dessa forma, Alexandre defende a conexão das políticas públicas entre os países. Para exemplificar essa necessidade, ele comenta sobre a circulação do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue e da febre amarela, pela fronteira Brasil-Paraguai, em Mato Grosso do Sul, região próxima à UFGD. “O mosquito da dengue não fala guarani no lado paraguaio e português no lado brasileiro. Ele é uma coisa só, não é? Então as políticas sociais, de saúde e de segurança precisam ser articuladas”, disse o pesquisador.

 

O documentário teve as filmagens realizadas em setembro do ano passado e foi publicado em julho de 2023. A produção e montagem do audiovisual foram da empresa Quixó Produções, dirigida pelo cineasta Luan Cardoso.
 

SOBRE O PROJETO
 

Além do documentário, o projeto prevê o estabelecimento de recomendações para a dinâmica de circulação no pós-pandemia e a elaboração de um mapa temático mostrando as etapas pelas quais passou essa dinâmica na fronteira franco-brasileira desde 1900, com ênfase no período atual.

 

O projeto é financiado pelo Centro Nacional de Pesquisa Científica (National Center for Scientific Research - CNRS) que aprovou em 2022, cinco projetos para a região de Oiapoque, pelo Observatório do Homem/Meio Ambiente (OHM Oyapock), entre eles o da equipe em que o professor Alexandre Bergamin faz parte.


OUTRAS PRODUÇÕES
Esse grupo de brasileiros, há alguns anos, desenvolve pesquisas em várias regiões de fronteira, um deles é o projeto “A cooperação transfronteiriça do Brasil: Segurança pública sanitária, ações institucionais e temas relevantes”, coordenado pelo professor da UFGD. A parceria resultou ainda no livro “
Political geography, geopolitics and territorial management: brazilian perspectives”, lançado este ano pela Editoria da UNIFAP, com organização de Gutemberg Vilhena e Alexandre Bergamin. 


Entre as publicações dessa temática também está a coletânea Saúde, Espaço e Fronteira(s), publicada em 2020 pela Editora da UFGD e que foi fruto dos seguintes eventos realizados pelo grupo de pesquisa GESF: VIII Simpósio  Nacional de Geografia da Saúde e V Fórum Internacional de Geografia da Saúde.

Jornalismo ACS/UFGD
 

UFGD

Professor da Faculdade de Ciências Humanas que integra a equipe do projeto
 

ufgd

Captura de tela da identificação do documentário

 




    Fotos