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Maio
17
2023

Pesquisa da UFGD analisa os impactos socioambientais nas terras indígenas de MS

  Atualizada: 17/05/2023
A pressão da produção de soja e o surgimento de loteamentos de alto padrão estão entre os principais aspectos encontrados nos limites das aldeias Jaguapiru e Bororó, em Dourados

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A pesquisa alerta para a falta de uma zona de amortecimento para proteger uma área da outra
 

Localizada limítrofe ao perímetro urbano de Dourados, a Reserva Indígena, formada pelas aldeias Jaguapiru e Bororó, possui 3,5 mil hectares e abriga cerca de 15 mil pessoas. Cercada por plantações de soja e condomínios de luxo, o contraste na paisagem é grande entre esses diferentes usos da terra para produção e moradia. A consequência disso está sendo analisada pela pesquisadora Patrícia Silva Ferreira, durante seu pós-doutorado na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), no Programa de Pós-graduação em Geografia.

 

A pesquisadora estuda os impactos socioambientais nas terras indígenas da região de fronteira do cone sul de Mato Grosso do Sul, especificamente nos municípios de Dourados, Antônio João e Amambai.


O vídeo com as imagens aéreas do primeiro dia de campo está publicado no canal do YouTube do Laboratório de Geografia Física da UFGD. Ele traz depoimentos com as observações iniciais de Patrícia Ferreira e do orientador Charlei Aparecido da Silva. Entre os primeiros resultados, são apresentados mapas da série temporal de 1985 e 2021, que ilustram as características e as transformações da área pesquisada, especialmente, o aumento da pressão sobre áreas naturais preservadas à medida que a expansão urbana e as áreas de produção de soja avançam em direção à Reserva.

 

De acordo com as observações iniciais do estudo, um dos efeitos da proximidade da monocultura da soja é a contaminação por agrotóxicos na água e no ar. A contaminação pela água pode estar acontecendo nos mananciais do Córrego Laranja Doce, mesma fonte utilizada pelos indígenas para beber, cozinhar, higienizar e produzir alimentos para subsistência. Pelo ar, as pessoas são contaminadas durante a pulverização da lavoura feita por aviões, ao lado das moradias.
 

“Não existe zona de amortecimento para proteger uma área da outra”, alerta Patrícia Ferreira. A proximidade é tanta que por vezes a plantação avança para dentro das aldeias, provavelmente resultado de arrendamento entre fazendeiros e indígenas.

 

A produção agrícola em larga escala vem acompanhada de toda infraestrutura que fornece condições para sua consolidação. Essas alterações, muitas vezes, trazem consigo mudanças socioeconômicas e conflitos territoriais, gerando tensões e desafios para as populações indígenas.
 

O professor Charlei Aparecido da Silva explica que são dois vieses diferentes para o uso da terra e que eles estão em situações desiguais, um é o da produção e utiliza o máximo de tecnologia e de recursos financeiros e o outro viés é da moradia e da subsistência e não recebe aporte financeiro e governamental.


DESIGUALDADE

 

A pesquisa de Patrícia Ferreira também notou a desigualdade entre a infraestrutura para as pessoas residirem no loteamento de alto padrão e nas aldeias. O loteamento é privado e tem asfalto e energia elétrica, rede esgoto e água potável. A Reserva indígena não possui asfalto e as condições são muito precárias para acesso à água e energia.
 

Além disso, o muro construído pelo condomínio alterou a dinâmica de circulação de pessoas da reserva para a cidade, impedindo a travessia no local. Em 2016, a área foi ocupada por indígenas. Pouco tempo após a retirada das famílias, foi construído o loteamento e erguido o muro. “Esses loteamentos acabam construindo, na área limítrofe da reserva, uma condição de segregação mesmo. Você tem ali um muro que é a separação de onde é a reserva indígena e de onde são bairros”, afirma a pós-doutoranda.


ANALISANDO IMAGENS

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Os levantamentos de drone permitem uma espécie de visualização horizontal da paisagem e também uma escala de maior detalhe
 

A pesquisa segue até o final de 2023 e é financiada pela Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul (FUNDECT) e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Para avaliar os impactos socioambientais, a metodologia utilizada valoriza três linguagens, o geoprocessamento associado aos Sistemas de Informação Geográfica (SIG) e ao trabalho de campo.

 

A partir do trabalho de interpretação visual de imagens, são selecionados pontos de investigação local, alinhados aos objetivos da pesquisa e, assim, realizados os levantamentos de drone, que permitem uma espécie de visualização horizontal da paisagem e também uma escala de maior detalhe. Dessa forma, a limitação que as imagens de satélite obtidas de forma gratuita possuem quanto à resolução, é resolvida com auxílio das imagens fornecidas a partir de voos de drone.
 

“Em suma, a compreensão desses impactos e a busca por formas de mitigação são fundamentais para promover a manutenção de habitats essenciais para a fauna e a flora locais, o respeito aos direitos indígenas e a preservação dos recursos naturais e culturais dessas áreas”, conclui a pós-doutoranda Patrícia Ferreira.


 

Confira o vídeo sobre o primeiro dia de campo em:

https://www.youtube.com/watch?v=o5zIsGlnKog&t=11s


 


Jornalismo ACS/UFGD
 

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A Reserva Indígena está localizada limítrofe ao perímetro urbano de Dourados
 

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A Reserva Indígena está localizada limítrofe ao perímetro urbano de Dourados
 

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A Reserva indígena não possui asfalto e as condições são muito precárias para acesso à água e energia

 

 

 




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