04
2023
No mês de conscientização sobre o autismo, entenda as dificuldades na vida universitária e saiba como facilitar
O dia 2 de abril é dedicado ao Dia Mundial de Conscientização sobre Autismo e a Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), por meio do Núcleo Multidisciplinar para Inclusão e Acessibilidade (NUMIAC), propõe uma discussão sobre a realidade enfrentada por pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) no meio acadêmico, especialmente os estudantes, e o papel fundamental da universidade em oferecer um ambiente inclusivo e acolhedor.
A permanência das pessoas com TEA na universidade, seja como estudantes, professores ou técnicos administrativos, é de extrema importância, não só para o desenvolvimento pessoal e profissional desses indivíduos, que contribuem em suas áreas de interesses utilizando todo seu potencial, mas também para que a comunidade acadêmica possa aprender a valorizar e a conviver com a diversidade.
Mas essa permanência no ambiente educacional é bastante desafiadora, já que o autismo é um transtorno caracterizado por dificuldades sociocomunicativas, sensoriais e emocionais e tanto a escola quanto a universidade são, em sua essência, espaços sociais de muita troca e comunicação. Somado a isso, existem, ainda, as especifidades de cada pessoa com autismo. Denilto Freire Júnior, por exemplo, está no quinto semestre de Ciências Biológicas na UFGD e explica que suas maiores dificuldades são transmitir com clareza seus pensamentos para o papel, além de matérias que envolvam cálculos. Para transpor esse tipo de barreira, o NUMIAC disponibiliza uma estagiária para atuar como leitora e transcritora durante as avaliações. Há caso em que o estudante com TEA se comunica bem verbalmente e por escrito, mas não consegue organizar o contraturno da vida acadêmica, então o núcleo oferece estagiário para dar suporte com organização de horários e estudos de conteúdo.
A VIDA ACADÊMICA DE QUEM TEM AUTISMO
Os estudantes com TEA também enfrentam a falta de compreensão de quem está ao redor. Se para alguém neurotípico uma pequena mudança no ambiente, contato visual ou físico ou mesmo barulhos podem ser bobagens, para quem é neurodiverso isso pode causar desconforto extremo e até desencadear crises. Esse é o caso da Amanda de Souza Palhano Barbosa, uma garota trans de 20 anos, com hiperfoco em ornitorrincos e astrobiologia, com diagnóstico de TEA desde o ano passado. O diagnóstico tardio prejudicou bastante sua vida escolar, pois as crises sensoriais eram confundidas com ansiedade, isso sem falar no bullying que sofria por parte dos colegas e na má conduta por parte dos professores. Hoje a Amanda está no segundo semestre de Ciências Biológicas na UFGD, algumas coisas melhoraram, mas os desafios continuam. “Meus professores e colegas sabem do meu TEA. A parte boa é que a faculdade é um lugar muito mais aberto ao diálogo do que a escola”, afirma a estudante. Mas nem tudo são flores.
O relato da Amanda ajuda bastante na compreensão das dificuldades que os autistas enfrentam, que muitas vezes são silenciosas. Ela tem fotossensibilidade e hipersensibilidades sonora e ao toque físico. Além disso, a forma como os professores ensinam é bem complicada para ela, que também tem dificuldade em ler conteúdos sem imagens. “Em compensação, tenho muita facilidade com textos e livros em inglês, ler um livro em inglês é menos maçante do que um em português”, explica. Comer no RU pode ser algo rotineiro para estudantes neurotípicos, mas para a futura bióloga é impossível. “Tenho seletividade alimentar alta. Cor, formato, textura, temperatura e cheiro da comida podem me afetar e não quero correr o risco de passar mal em público”.
Algumas dessas situações a estudante consegue contornar utilizando fone cancelador de ruído ou protetor auricular, carregando consigo um tubarão de pelúcia que é o objeto de apoio e a tranquiliza ou, ainda, caminhando nas pontas dos pés, que é como se sente abraçada e se acalma sensorialmente. Mas às vezes acontece de ter uma crise, e nesse caso é preciso que colegas e professores acolham corretamente a pessoa com TEA, e cada uma dessas pessoas vai demandar um atendimento diferenciado. Amanda abriu seu coração e contou que anda se sentindo sozinha, pois teve uma crise sensorial em sala de aula no ano passado e ficou envergonhada por isso, o que diminuiu sua interação com os colegas. Esse é exatamente o tipo de situação pontual que o Núcleo de Inclusão e Acessibilidade pretende combater. Além de campanhas coletivas para sensibilizar toda a comunidade acadêmica, existem esses trabalhos específicos para colocar coordenação e professores a par da especificidade de cada aluno e tornar a universidade acolhedora.
É o que explica a responsável pelo NUMIAC, Adriana P. S. Santos. “Sobre o atendimento com TEA, um dos mais importantes que está sendo realizado é a acolhida, assim que sabemos da existência deles, são convidados a vir ao núcleo para serem ouvidos e orientados a respeito do que tem dúvidas e dificuldades, assim como fazemos o contato com coordenadores e professores dos cursos em que estão matriculados. Outro ponto importante é fomentar o conhecimento. Precisamos saber do que se trata esse transtorno, quem são essas pessoas enquanto sujeitos de direito, de capacidade e de potencialidades”, defende. Aos estudantes com autismo, Adriana coloca a equipe do núcleo à disposição para que se apresentem, exponham suas dificuldades e expliquem a melhor forma com que professores e colegas possam facilitar sua vida acadêmica.
É importante destacar que as pessoas com TEA são consideradas pessoas com deficiência para todos os efeitos legais. Isso significa que, dentre outros direitos, a legislação garante educação especial e atendimento educacional especializado a elas. Esse atendimento é de acordo com a necessidade de cada um, então pode variar bastante. No vestibular, a UFGD também oferece esse atendimento, que pode ser, por exemplo, de ledor, transcritor ou tempo adicional para realização da prova. O candidato informa sua necessidade já no ato de inscrição.
Conheça a legislação que garante o direito das pessoas com autismo em: https://autismoerealidade.org.br/convivendo-com-o-tea/leis-e-direitos/.
Saiba mais sobre o universo do TEA em: https://www.canalautismo.com.br/.
SOBRE O NUMIAC
Embora tenha sido abordado o enfoque no autismo, em alusão ao dia 2 de abril, o Núcleo Multidisciplinar para Inclusão e Acessibilidade da UFGD é um órgão que oferece acolhimento, suporte, orientação acadêmica e profissional a todos os estudantes universitários com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, ou seja, todas as pessoas que se enquadram na Educação Especial. O NUMIAC está localizado no Centro de Convivência da UFGD, na Unidade 2. Mais informações: numiac@ufgd.edu.br ou (67) 3410 – 2920.
Este ano o núcleo realizará ações voltadas à conscientização da comunidade acadêmica sobre o tema deficiência. Em abril, as ações serão voltadas ao Transtorno do Espectro do Autismo. A responsável do núcleo reforça: “pelo que percebemos, ainda estamos iniciando pequenos passos para informação, formação e quebra de barreiras que dificultam o ingresso e a permanência desses estudantes no espaço universitário. Iniciar já é um grande passo, eliminar barreiras excludentes, outro passo, buscar e distribuir informação, mais um. Tornar-se um facilitador é mais um passo nesse processo de inclusão de todos. Elimine barreiras e crie facilitadores!".
Jornalismo ACS/UFGD