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Maio
08
2020

Mesmo a distância, colação de grau emociona formandos de Medicina da UFGD

  Atualizada: 08/05/2020
Fisicamente longe de familiares e amigos, os novos médicos tiveram uma cerimônia memorável por conta da pandemia de covid-19

Era para ter sido um dia repleto de abraços, com gente vindo de longe presenciar a conquista de suas meninas e seus meninos. Haveria palmas, flores e flashes de câmeras, música, becas e capelos no ar. Mas por um motivo que foge ao controle de todos, teve que ser diferente. “E foi incrível do mesmo jeito. Esperei a vida toda por esse momento e não teve nenhum defeito”.
 
Roque Beltrão Batista, de 25 anos, é um dos 38 médicos recém-formados pela UFGD, na primeira cerimônia de colação de grau realizada a distância na história da instituição. Em função da pandemia de covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, essa foi a maneira encontrada para antecipar a formatura dos acadêmicos, que agora passam a contribuir efetivamente no combate à grave emergência em saúde pública vivenciada pelo mundo.
 
Nascido em Anastácio/MS, Roque veio para Dourados a fim de realizar o sonho que o acompanhava desde criança. Após três anos de muito estudo, renúncias e tentativas, alcançou a aprovação na UFGD. “Tanto antes, como durante o curso, meus pais abdicaram de muita coisa, se sacrificaram para eu conseguir chegar onde cheguei. E mesmo de longe, minha família ficou muito emocionada”, conta o novo médico.
 
Conectados por videochamada, os familiares do formando acompanharam toda a cerimônia a distância, na tarde da última terça-feira (05/05). O evento, que foi organizado em formato de videoconferência entre a mesa diretiva da UFGD e os estudantes, teve transmissão aberta e em tempo real, pelo canal da Universidade na plataforma YouTube. 
 
Após as formalidades on-line, todos os acadêmicos, em carros separados, passaram pelo drive thru da Unidade 1 (prédio da Reitoria) para assinar a ata da colação de grau e concluir definitivamente seu primeiro desafio na longa carreira de estudos que é a Medicina. “Agora estou ansioso para trabalhar. Quero continuar em Dourados e retribuir com esforço tudo que meus pais fizeram por mim”, diz o representante da turma, que é a décima sexta a se graduar pela UFGD.
 

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O formando Roque Beltrão, no drive thru para assinatura da ata de colação de grau


VIDAS EM PRIMEIRO LUGAR

 
Pensar no futuro em um período como o atual pode confundir as esperanças e os sentimentos, ainda mais para os novos profissionais de saúde que estão se formando antecipadamente, justamente para reforçar as linhas de frente do tratamento e da pesquisa contra o novo coronavírus. 
 
“É difícil dizer em poucas palavras o que estamos sentindo. Ao mesmo tempo em que estamos felizes e satisfeitos em poder ajudar a população nesse momento tão delicado, temos também o peso da responsabilidade”, afirma Melissa Rubinstein S. Alencar, de 28 anos, também recém-formada.
 
Para ela, sacrificar sua expectativa pelos eventos de formatura e pela confraternização em família é totalmente válido, em prol da saúde coletiva. “Afinal, me preparei ao longo de seis anos para cuidar de vidas e elas virão sempre em primeiro lugar na minha jornada”, ressalta a médica, que é natural de Campo Grande/MS e agora volta para a cidade natal com o objetivo de atuar em Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e em plantões hospitalares.
 
Para os formandos, quando o calendário acadêmico da UFGD teve de ser suspenso em função da covid-19, restavam apenas 32 dias de estágio em regime de internato (estágio obrigatório cumprido nos dois últimos anos do curso de Medicina) para concluírem a graduação. “Todos ficaram muito contentes com a decisão pela antecipação, até no sentido de não termos nossa colação de grau atrasada em virtude da suspensão do calendário”, alega Roque.
 
A antecipação das formaturas de profissionais da área de saúde está entre as medidas de combate à pandemia e está prevista na Portaria Nº 383, de 9 de abril de 2020, do Ministério da Educação, que regulamenta a Medida Provisória Nº 394, de 1º de abril de 2020, do Governo Gederal.
 

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A acadêmica Melissa Rubinstein, após assinar a ata da colação de grau


UMA HISTÓRIA PARA SE CONTAR

 
Além de ser o primeiro grupo na trajetória da UFGD a se formar por webconferência, a décima sexta turma de Medicina é a primeira a ter ingressado nas aulas a partir do segundo semestre, ou seja, a turma “do meio do ano”. Desde 2014, pelo então Plano de Expansão, a Universidade admite 80 aprovados para o curso, compondo duas classes, uma com início do primeiro semestre e a outra no segundo.
 
“O pessoal da sala estava até comentando que somos a primeira turma do meio do ano a se formar, portanto nossa colação de grau tinha que entrar para a história mesmo”, brinca Melissa. A colega Amanda Barbosa Dias Melo, de 25 anos, concorda e emenda: “Com certeza é uma turma que ficará para a história. Tenho muito orgulho de fazer parte desse momento e será um dia sobre o qual certamente contarei aos meus filhos e netos”.
 
Amanda, que é de Três Lagoas/MS, começou a sonhar com a Medicina aos 15 anos, no Ensino Médio, quando tentava decidir para qual curso prestaria vestibular. “Sempre tive grandes exemplos da área da saúde em minha família, pois meu pai é dentista e meu tio é médico. Sempre os admirei”, relata.
 
O caminho, no entanto, não foi nada fácil, a exemplo de vários outros companheiros de sala de aula. Vinda de uma família batalhadora, a nova médica conta que os pais, por muitos anos, priorizaram a educação das três filhas, em detrimento de bens materiais. Após dois anos de cursinho, a aguardada aprovação veio e o sonho começou a tomar forma.
 
Hoje, a agora profissional tem como grande desejo trabalhar em Dourados, na atenção primária em saúde, as UBSs, que são as portas de entrada para o Sistema Único de Saúde (SUS). “Como sou da universidade pública, dou muito valor e tenho muita gratidão ao SUS, que foi minha escola. Quero contribuir com o sistema como profissional qualificada, ainda mais nesse momento”, enfatiza a médica, que também planeja fazer residência e se especializar em Dermatologia.
 

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Amanda Barbosa (acima e ao centro) diz que a colação de grau a distância foi um momento que entrou para a história do curso de Medicina
 

ACOLHIMENTO

 
Assim como os colegas, Mateus Paniago Eccard, de 25 anos, veio a Dourados em busca de um novo panorama. De Brasília/DF, o recém-formado relembra de, aos 20 anos, ter chegado à cidade na qual nunca tinha estado antes. “Não conhecia ninguém e no começo não foi fácil. Mas fui sendo bem acolhido por todos, o que tornou minha vida melhor, já que, por seis anos, houve muita dedicação, estudo, noites em claro e, também, momentos de diversão com pessoas que levo para o resto da vida”, diz o médico.
 
Fisicamente longe de todos, apenas com os pais em casa, Mateus conta que o momento da cerimônia foi gratificante, já que, graças à tecnologia, outros familiares e amigos puderam acompanhar a colação de grau. “Houve prós e contras. Eu estava longe de praticamente todo mundo, mas muitos puderam vivenciar comigo, a distância mesmo, algo que não aconteceria se fosse um evento presencial”, pondera o ex-acadêmico.
 
De mudança para São Paulo/SP para trabalhar em uma clínica, ele se diz muito feliz pela forma como as coisas vêm se materializando. Já cursando uma pós-graduação em Nutrição Esportiva e visualizando outra em Nutrologia, para o segundo semestre, o profissional se diz grato por ter estudado na UFGD e no Hospital Universitário (HU-UFGD). 
 
Orgulhoso dos amigos que agora também seguirão suas carreiras em UBSs, clínicas, hospitais e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), a expectativa de Mateus é por um reencontro comemorativo, assim que a pandemia terminar. As festas da turma, que seriam realizadas em julho deste ano, provavelmente ficarão para 2021. 

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O formando Mateus Paniago, após assinatura da ata de colação de grau
 

TÃO PERTO E TÃO LONGE
 
“Senti como se estivesse lá”, resume Amanda que, mesmo sozinha em casa, teve a companhia virtual da família. Para ela, que sempre sonhou com o dia da colação de grau, com todas as formalidades da solenidade e com a presença de pessoas queridas, a distância não tirou a emoção do momento. “Foi gratificante e memorável”, descreve.
 
O isolamento também não impediu que Melissa e os colegas se preparassem para o evento, como se fossem ao Auditório Central da UFGD. “Fomos orientados sobre a importância da vestimenta e conversamos bastante pelo grupo de WhatsApp da sala, inclusive, um ajudava o outro com os problemas da transmissão, como quando o microfone não funcionava, por exemplo. Queríamos que tudo desse certo”, explica.
 
A pró-reitora de Ensino de Graduação da UFGD, Selma Helena Marchiori Hashimoto, conta que todo o procedimento da colação de grau a distância foi regulamentado pelo Conselho de Ensino, Pesquisa, Extensão e Cultura (Cepec) da Universidade e por Instrução Normativa da Pró-reitoria de Ensino de Graduação (PROGRAD). “Foram feitos, inclusive, dois ensaios com os alunos antes da cerimônia, no ambiente virtual, para que tudo ocorresse conforme o esperado”, diz.
 
A mesa diretiva da solenidade foi montada na Unidade 1 da UFGD, com a presença da reitora pro tempore Mirlene Ferreira Macedo Damázio, o vice-reitor Luciano Geisenhoff, a pró-reitora de Ensino de Graduação, Selma Helena Marchiori Hashimoto, a diretora da Faculdade de Ciências da Saúde, Silvia Aparecida Oesterreich, e a coordenadora do curso de medicina, Jucilane Lima Henklain Ferruzzi. Todos usaram máscara durante o ato.
 
Todo o suporte da transmissão e da videoconferência foi dado por técnicos da Faculdade de Educação a Distância da Universidade (EaD), que atuaram tanto presencial como remotamente.
 
Confira um compacto da solenidade, veiculado no canal do MEC. Também está disponível o vídeo completo da formatura, no canal da EaD/UFGD.
 

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Solenidade foi realiza por webconferência entre a mesa diretiva da UFGD e os formandos
 

ENFRENTAMENTO AO CORONAVÍRUS
 
De acordo com o MEC, as universidades federais brasileiras já formaram 1.241 novos profissionais da saúde durante a pandemia. São 1.058 médicos, 150 enfermeiros, 23 farmacêuticos e dez fisioterapeutas graduados antecipadamente. A ideia é reforçar o quadro de profissionais nesse momento de enfrentamento ao novo coronavírus.
 
Na região Nordeste, foram graduados 547 novos profissionais. Na região Norte, 224, no Sul do País, outros 185. A região Centro-Oeste graduou 125 estudantes antecipadamente e a região Sudeste, 160.
 
A portaria publicada pelo Ministério possibilitou a antecipação da formatura de cursos de saúde, autorizando a colação de grau de estudantes de Medicina, ao concluírem 75% do internato, e alunos de Enfermagem, Farmácia e Fisioterapia, no momento em que cursarem a mesma porcentagem do ensino curricular obrigatório. A medida tem caráter excepcional e valerá enquanto durar a situação de emergência na saúde pública.

Jornalismo ACS/UFGD



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