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Abril
12
2019

Populações indígenas são fundamentais para preservação da biodiversidade, diz doutora

  Atualizada: 12/04/2019
Evento do PPGET tem continuidade à noite, com o lançamento do livro Povos Indígenas em Mato Grosso do Sul

Pela primeira vez, o papel dos povos indígenas e dos povos tradicionais foi fundamental para a elaboração do relatório gerado pela Plataforma Intergovenamental da Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, segundo a doutora Manuela Carneiro da Cunha, que fez a aula inaugural do Programa de Pós-Graduação em Educação e Territorialidade (PPGET) da Faculdade Intercultural Indígena (FAIND/UFGD). O evento aconteceu nesta manhã, no Auditório da Uems.

Essa plataforma informa os governos sobre o estado da biodiversidade, ecossistemas e serviços prestados, reforçando a interface ciência/política. E, para a professora, isso mostra a importância dos povos indígenas para a preservação da biodiversidade. "Essa população é barreira para o avanço da mineração, por exemplo, quando preservam a biodiversidade que significa segurança alimentar".

Durante sua fala, Manuela Carneiro destacou o Programa de Pós-Graduação criado pela FAIND "tão original e novo" e importante, considerando o momento difícil que se passa os povos indígenas no Brasil. A doutora lembrou da valiosidade das pesquisas para a manutenção da diversidade dentro da academia, "pois são elas que dão lastro e munição para muita coisa. Coisas diversas quando se unem não se separam mais, ficam mais homogêneas e perde sua diversidade. E os diversos é que mantém a ordem e os homogêneos é que causam a desordem, isso na economia, antropologia, física".

Manuela Carneiro apresentou algumas evidências de integração de comunidades indígenas com empresas e governo que vêm mantendo a biodiversidade em algumas regiões do país, como no caso dos Kayapó, que possuem mais de 56 varidades de batata doce, e do Guaraná de indígenas da Amazônia, onde as atividades são feitas em parceria com a Embrapa e a Ambeve.

"A agricultura também é uma maneira de domesticar a gente. E os povos indígenas nos ensinam muito nesse sentido, pois eles enxergam o homem com direitos sobre a terra, mas os outros seres também, e isso permite a preservação da biodiversidade. Essa concepção é importante e alternativa, e os povos indígenas põem em causa e contestam a forma colonialista de lidar com a natureza", enfatizou.

MOMENTO DIFÍCIL

A doutora em Ciências Sociais fez críticas ao atual governo que, já no primeiro dia de mandato, publicou uma Medida Provisória de desmembramento da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), realocando-a para o Ministério da Agricultura, tracidionalmente adversário das demarcações de terras indígenas.

"Mas não é a primeira vez. E por que mexer nisso é tão importante? Porque a questão da terra é da União, usufruto dos povos indígenas, domínio da União que tem obrigação de manter integridade e segurança dessas comunidades. Sempre essas terras serviram como moeda de troca, não há nada de novo nisso, só que este governo manda mensagem que agora vale tudo e há uma percepção da população não indígena de que vale tudo".

A professora também exemplificou formas discretas do governo de atingir as comunidades. "É cortar orçamento do IBAMA, por exemplo, que nos anos de 2016 e 2017 atuou contra garimpeiros na área dos Kayapó e que agora está sem ninguém, estão desprestigiados. São ameaças reais. São cortes de recursos na saúde indígena, ou seja, maneiras eficazes de destruir os serviços públicos e dando abertura à mineração em terras indígenas".

EVENTO

O evento do Programa de Pós-Graduação tem continuidade à noite, às 19h30, no Auditório Central da Unidade 2 da UFGD (Cidade universitária), com o lançamento do livro: Povos indígenas em Mato Grosso do Sul, de autoria da professora Graciela Chamorro e Isabele Combès.

Na oportunidade, haverá uma mesa redonda sobre o tema com a professora Manuela Carneiro da Cunha que, de certa forma, inspirou as organizadoras do livro. Manuela Carneiro fará a conferência ititulada: História dos índios no Brasil, que 27 anos atrás rompeu o silêncio sobre muitos povos indígenas do Brasil, no ambiente acadêmico.
 
A conferencista é uma das integrantes do comitê científico do livro Povos Indígenas em Mato Grosso do Sul, disponível para download na página da Editora UFGD, pelo link: https://www.ufgd.edu.br/setor/editora/catalogo.
O evento de lançamento do livro é aberto à comunidade e é uma realização do Laboratório de Ensino e Pesquisa em História Indígena LEPHI e do Programa de Pós-Graduação em História, e conta com o apoio da Editora e da Reitoria da UFGD. Exemplares estarão à venda no saguão do Auditório Central da Uuniversidade, a partir das 18h30.

A CONFERENCISTA

Manuela Carneiro da Cunha é antropóloga, doutora em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas e graduada em matemática pela Faculté des Sciences de Paris. Fez pós-doutorado na Universidade de Cambridge. Foi professora doutora da Universidade Estadual de Campinas e professora titular da Universidade de São Paulo, onde, após a aposentadoria, continua ativa.
 
É professora emérita da Universidade de Chicago. Foi professora visitante na Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales, na Universidade Pablo de Olavide, na Universidade de Chicago; no PPGAS do Museu Nacional (UFRJ). Foi titular da cátedra "savoirs contre pauvretés" no Collège de France em 2011-2012. É membro da Academia Brasileira de Ciências, e da Academia de Ciências do terceiro mundo.

Foi presidente da Associação Brasileira de Antropologia (1986-88) e representante da comunidade cientifica no CD (conselho deliberative) do CNPq. Foi indicada em 2014 pelo Governo Brasileiro para compor a Força Tarefa da IPBES (Plataforma Inter-governamental da Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos). É membro da (ILK Work Force) Força Tarefa de Conhecimentos de Povos Indígenas e Comunidades Locais da IPBES (2014-2019) e General Reviewer do Global Assessment dessa plataforma (2017-2019). Colabora também na Plataforma Brasileira da Biodiversidade e é membro, desde 2018, do Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

Na Universidade de São Paulo, fundou em 1986 o Núcleo de História Indígena e do Indigenismo e dirigiu um projeto temático sobre História Indígena. Foi PI (Principal Investigator) de um projeto colaborativo financiado pela Fundação MacArthur (1992-1995) sobre conhecimentos tradicionais no alto rio Juruá, Acre; PI de projeto no CEBRAP financiado pela Fundação Ford sobre Políticas Culturais Indígenas (2009-2014); recebeu encomenda do Ministério de Ciência Tecnologia e Inovação (2014-2017) para estabelecer bases de um programa sobre conhecimento indígena, e, recentemente, para construir diagnóstico sobre as contribuições dos povos indígenas e comunidades locais no Brasil para a geração, manutenção ou conservação da biodiversidade e a recuperação de solos e outros serviços ecossistêmicos.

Acesse o currículo completo da doutora pelo link: http://lattes.cnpq.br/0463124533515635

Jornalismo ACS/UFGD



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