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Novembro
13
2017

​HU-UFGD reforça a vocação para o atendimento humanizado à população indígena

  Atualizada: 13/11/2017
Ação solidária de hoje na aldeia Jaguapiru levou profissionais para dentro da realidade dos pacientes, em experiência máxima de assistência humanizada à saúde

Encurtar distâncias, estreitar parcerias e reafirmar vocações. A atividade realizada sexta-feira (10), numa grande iniciativa conjunta que levou atendimento em saúde a 760 moradores da Reserva Indígena de Dourados, proporcionou que estas três ações fossem colocadas em prática, beneficiando a quem mais precisa de atenção e menos a ela tem acesso.
 
Os atendimentos foram efetuados por mais de 200 colaboradores, residentes e acadêmicos do Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados (HU-UFGD) e da UFGD, com o apoio da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e dos profissionais da Escola Indígena Tengatuí Marangatu e da Unidade Básica de Saúde Jaguapiru II, locais onde se instalaram as atividades.
 
Idealizada pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), a ação Ebserh Solidária propôs que cada uma de suas 39 unidades filiadas saísse de seus prédios e realizasse atendimentos dentro de comunidades que sofrem com a vulnerabilidade social e, por esse motivo, tem dificuldades em receber assistência à saúde.
 
Edite Martins, de 63 anos, é chefe de uma das várias tekohasexistentes hoje em locais próximos, porém fora da reserva indígena. O termo, em guarani, significa território ou local de morada, e nesses casos é designado para denominar acampamentos e áreas ocupadas pelos guaranis que buscam demarcação, por serem considerados terras ancestrais e sagradas para sua etnia.
 
Para ela, o acesso a uma simples consulta médica especializada, por exemplo, é uma odisseia. A reserva dispõe de quatro postos de saúde que realizam um árduo trabalho de mais de duas mil consultas por mês, porém quase todas voltadas à atenção básica. Um especialista, é algo mais difícil. “Eu não tenho nem palavras quando esse tipo de ação vem para dentro da aldeia. O meu povo aqui necessita, tem gente que não tem condições de ir até um hospital. E aí, como é que faz?”, questiona a moradora, que aproveitou a ocasião para passar pelo oftalmologista e por exames de sangue.
 
Além da distância e da dificuldade de transporte até a cidade, a barreira linguística é outro fator que muitas vezes impede um tratamento de saúde efetivo. Com 106 anos de idade, Floriza Machado, avó e bisavó de muitos dos moradores da aldeia Bororó – que também integra a reserva indígena – foi hoje ao oftalmologista. Acompanhada pela filha e pela sobrinha, que falam bem o português, a anciã também recebeu atenção dos agentes de saúde, que são os grandes responsáveis por fazer a ponte entre os dois idiomas existentes na comunidade.
 
O médico Zelik Traijber, pediatra que há 17 anos trabalha na saúde indígena, explica que todas as dificuldades, estruturais e culturais, que permeiam a população indígena fazem com que seja primordial um trabalho especializado. “Não há transporte suficiente para levar todos os pacientes e, muitos, quando chegam ao local da consulta, não possuem convivência social suficiente para se expressarem”, afirma.
 
Terra vermelha
 
Com aproximadamente 17 mil indígenas, a região da Grande Dourados abriga três etnias: Guarani-Nhandeva, Guarani-Kaoiwá e Terena. E apesar de ter evoluído imensamente nos últimos vinte anos, a saúde pública ofertada a esse público ainda não comporta toda a população. Zelik conta que na década de 1980, o índice de mortalidade infantil era de 140 a cada mil crianças, estatística assustadora que, hoje, após anos de luta pela causa, foi revertida para 10 a cada mil crianças.
 
O trabalho em saúde com a população indígena é uma vocação diferenciada e leva em conta diversos fatores que englobam, em primeiro lugar, a cultura desses povos. O dentista Antônio Saturnino Filho conhece bem essa realidade, pois atua no meio há 34 anos, estando hoje na Unidade Básica de Saúde Jaguapiru II, posto que deu apoio à ação Ebserh Solidária.
 
“Me sensibilizei com a saúde indígena quando fiz trabalho voluntário, há mais de 30 anos, na aldeia Panambizinho. Foi muito impactante, pois era um dia chuvoso e eu imaginava que atenderia cinco ou seis pessoas, mas mesmo com a água e o frio, a aldeia toda aguardava por atendimento. Aquilo me constrangeu, me tocou, e eu fiz daquela experiência minha opção de vida, que é muito gratificante”, relata.
 
O odontólogo do HU-UFGD, Maurício Shimada, que se deslocou com Antônio até as casas de pacientes com necessidades especiais residentes na aldeia, avalia o trabalho como um importante meio de comunicação entre quem está na base e quem está na alta complexidade hospitalar. “Nessa área, é mais complicado para o paciente que precisa de atendimento especial, pois sabemos que na atenção básica esse tratamento é indisponível. Criar oportunidades como essa é essencial para se fazer a comunicação entre os setores”, ressalta.
 
Vocação
 
A superintendente do HU-UFGD, Mariana Croda, pontua que desde sua concepção, o hospital tem como objetivo atender às necessidades da população indígena, sendo que hoje uma porcentagem considerável dos procedimentos se refere a pacientes das etnias. “Já nos adaptamos em vários aspectos para atender a essas necessidades, mas ainda há muito a melhorar”, aponta.
 
Setores do HU-UFGD como a Pediatria, por exemplo, chegam a atender 60% de pacientes indígenas de diversos municípios da Grande Dourados. “A ação de hoje foi elaborada como uma forma de estreitar ainda mais essa relação, pelo caminho inverso, levando o profissional para dentro da aldeia, para dentro da realidade dos pacientes. É uma maneira de complementar e dar continuidade ao trabalho iniciado pela atenção básica, construindo uma ponte robusta entre a reserva indígena e o HU”, conclui.
 
 
Unidade de Comunicação - HU-UFGD



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