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Março
09
2016

Colóquio Mulher e Sociedade debate gênero, raça e assistência social

  Atualizada: 09/03/2016
A partir do tema “Reflexões sobre a afirmação de direitos e justiça social”, o I Colóquio Mulher e Sociedade promoveu uma mesa redonda para o debate de gênero, raça e rede de assistência social, na noite desta terça-feira, 08 de março, Dia Internacional da Mulher.

A participação dos estudantes foi intensa, lotando o cineauditório da Unidade 1 da UFGD, e o Colóquio marcou o início das atividades públicas do Núcleo de Estudos de Diversidade de Gênero e Sexual (NEDGS) da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).

Durante a abertura, a reitora da UFGD, profa. Dra. Liane Calarge, conclamou a comunidade acadêmica a participar das ações desse Núcleo e também dos outros três Núcleos da UFGD: Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros, Núcleo Multidisciplinar para a Inclusão e Acessibilidade e o Núcleo Indígena. Para a reitora, atuar e sugerir ações nesses núcleos vai fazer com que ocorram mudanças na realidade atual, por meio da Educação, proporcionando uma formação mais ampla e justa. 

Para mudar o cenário de violência contra a mulher, em que diariamente 119 mulheres são mortas por seus parceiros e parentes, o organizador do Colóquio e chefe do Núcleo de Estudos de Diversidade de Gênero e Sexual (NEDGS), Prof. Dr. Miguel Gomes Filho, falou sobre a vocação de contestação da universidade e no caso do Núcleo na UFGD, apontou que entre os seus objetivos está o de incentivar programas e formação continuada e de promover sistematicamente as discussões de gênero na universidade.

Sobre a discussão de gênero nas escolas, tanto o coordenador da Cátedra Unesco – Diversidade Cultural, Gênero e Fronteiras, Losandro Tedeschi, quanto a diretora da Faculdade de Educação, Elisângela Scaff, chamaram a atenção para o retrocesso que foi o posicionamento dos vereadores de Dourados sobre a questão de gênero no Plano Municipal de Educação.

MESA REDONDA
Logo após a abertura teve início a mesa redonda com os temas: “Mulher ou Gênero: que diferença faz?”, com a Profa. Dra. Jacy Corrêa Curado (FCH/UFGD); “Raça e Gênero: mulheres negras– algumas experiências que as constituíram”, com a Profa. Dra. Maria de Lurdes da Silva (UEMS); e “Rede de atendimento da assistência social do município de Dourados”, com a assistente social e coordenadora do Centro Viva Mulher, Regina Helena Vargas Valente de Alencar.

MULHER OU GÊNERO
Sobre o tema “Mulher ou Gênero: que diferença faz?”, a Profa. Dra. Jacy Corrêa Curado fez uma apresentação didática das categorias de mulher e gênero. Primeiro levantou questionamentos sobre que mulher é essa da qual se fala e que modelo seria esse de mulher universal. Em seguida mostrou o reducionismo da classificação binária entre feminino e masculino quando se considera apenas o sexo biológico feminino como antagonista ao sexo masculino.

Trouxe então o conceito de gênero da historiadora Joan Scott, focado nas relações de poder e na construção sociocultural em torno do sexo biológico e recomendou o artigo “Gênero: uma categoria útil para análise histórica”. Sobre esse conceito, Jacy Corrêa Curado comentou que ele foi revolucionário, porque não propôs a inversão entre os papéis de homem e mulher, mas a transformação dessas relações.

O debate ficou mais complexo com o conceito de performance de gênero, da filósofa Judith Butler. A performance de gênero faz a crítica ao conceito de Joan Scott, no sentido de que não existiria um corpo assexuado em que a cultura irá construir. O foco dos gêneros performáticos seria maior na interação, nas nuances e na instabilidade, sinalizando a existência de 11 tipos de gênero, ao invés da binariedade.

Sobre a discussão dos conceitos e categorias, Jacy Corrêa Curado exemplificou a importância desse debate, na própria data do Dia da Mulher. O 8 de março antes era um marco temporal desconhecido e valorizado apenas pelos movimentos sociais para agendar o tema da luta das mulheres por seus direitos na discussão pública, mas que hoje teve esse sentido esvaziado pelo mercado, que coloca a mulher como um ser único e desconsidera a diversidade das mulheres.
 
GÊNERO E RAÇA
Sobre o tema “Raça e Gênero: mulheres negras– algumas experiências que as constituíram”, a Profa. Dra. Maria de Lurdes da Silva explicou a necessidade de diferenciar o feminismo do movimento das mulheres negras. A razão disso está no duplo pertencimento das mulheres negras, o pertencimento à condição de mulher e o pertencimento étnico-racial.

Além do mais, o contexto do início do feminismo tinha uma agenda em que não cabiam as pautas das mulheres negras. O exemplo usado por Maria de Lurdes da Silva foi o de que enquanto as feministas saíam de casa para atividades de direito ao corpo e ao voto, as negras eram as babás e empregadas domésticas que mantinham a suposta harmonia na organização familiar das feministas.
Assim, teria sido necessário romper com esse feminismo, porque ele não enxergava a especificidade do feminismo negro, que era mais amplo, envolvendo luta política, por melhores condições de trabalho, por ética, estética e por ser e existir como mulher negra.

Sobre o pertencimento étnico-racial, primeiro Maria de Lurdes ressalvou que, por ser pedagoga, defende que nos processos educativos é que são realizadas as mudanças. A partir daí, afirmou que na perspectiva africana, em que não existe separação entre os espaços, tudo é vida, tudo é trabalho e tudo é religião, a mulher tem uma força muito grande na organização dos arranjos comunitários. Por isso, em situações como a de escravidão no Brasil, as mulheres conseguiram procurar brechas para ir conquistando alguma qualidade de vida e ir rompendo a repressão.

Entre os outros pontos abordados na palestra de Maria de Lurdes esteve a liderança da mulher negra nas diversas doutrinas religiosas e as formas de aquilombamento moderno, com a criação dos grupos Instituto da Mulher Negra do Pantanal e Coletivo de Mulheres Negras “Raimunda Luzia de Brito”.

REDE DE ASSISTÊNCIA
A coordenadora do Centro Viva Mulher, Regina Helena Vargas Valente de Alencar, fez uma contextualização sobre as evoluções no entendimento de Assistência Social, que a partir da Constituição de 1988 virou um direito do cidadão e dever do Estado. Também falou sobre a Política Nacional de Assistência Social e em seguida apresentou os órgãos que a Prefeitura de Dourados possui nessa área.

As mulheres são atendidas no Centro de Convivência da Pessoa com Deficiência (2.618 mulheres), no Centro de Convivência do Idoso (821 mulheres), no Qualifica PRONATEC (659 mulheres), no Programa Bolsa Família (7.306 famílias) e nos Centros de Referência de Assistência Social (38.506 famílias).  

Sobre o atendimento específico, foram 523 mulheres atendidas em 2015 pelo Centro Viva Mulher, sendo que o maior número de casos é de violência psicológica, seguida por ameaça, injúria/difamação e por último as vias de fato.

Ainda explicou que o fechamento da Casa Abrigo ocorreu pela falta de apoio do Governo Estadual e que hoje (09) será entregue um documento para a vice-governadora, Rose Modesto, em Campo Grande solicitando a reabertura da Casa Abrigo.
 
INFORMAÇÕES
E-mail nedgsufgd@outlook.com.