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Outubro
29
2014

​Professor Gilson Volpato (UNESP) dá entrevista sobre redação cientifica

  Atualizada: 29/10/2014
O professor Gilson Volpato, docente na Universidade Estadual de São Paulo (UNESP), palestrou durante o Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão (ENEPEX) da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS). Ele ministrou o minicurso: "Método Lógico para Redação Científica", para alunos e docentes das duas instituições de ensino. Após os dois dias de curso, entrevistamos o professor sobre a arte da redação científica e seus desafios.

Ao sair das suas palestras, o público comenta o quanto a escrita acadêmica parece mais fácil após suas explicações. Existe algum segredo para desenvolver a escrita acadêmica?
Se há algum segredo é que as pessoas têm que primeiramente acertar seu pensamento antes de escrever. Porque as pessoas começam a escrever mesmo antes de entender direito o que estão escrevendo. Elas têm apenas uma noção do trabalho, ainda não completaram a ideia, e então vão escrevendo aos pedaços. Por exemplo, na minha cabeça eu vou escrevendo meus trabalhos enquanto estou dirigindo; a hora que eu vejo que a matéria está pronta, é só sentar e de fato escrever. É isso que mata: quando a pessoa começa a escrever e vai fazendo pedacinhos. O primeiro segredo é pensar antes, e quando estiver tudo claro na cabeça, sente e escreva. O segundo segredo é, antes de escrever, montar um outline. Faça tópicos, analise, escolha uma sequência lógica para o trabalho e, a partir disso escreva os parágrafos. O brasileiro não têm uma cultura de planejamento; a gente vai fazendo. Mudar esses dois aspectos muda muito o trabalho científico.

Os professores e orientadores têm a função de ensinar a redação científica ou os estudantes devem aprender com leitura e a prática da escrita?
O estudante tem que ser um aprendiz independente e com iniciativa, mas é o orientador que tem que ensinar pesquisa e, inclusive, a redação científica. Me assusta quando universidades me chamam para dar palestra dizendo ‘venha nos ajudar porque os alunos não sabem escrever’. Não! Quem ensina redação científica é o orientador. Se o professor não sabe, ele é quem tem que fazer curso de aprimoramento. Quando o docente faz esse curso, o conhecimento fica na instituição, e assim todos os anos o docente vai dar excelentes orientações às turmas que ele receber. Mas, na prática, o que acontece é que na maioria das universidades onde vou dar palestras o público é de alunos; e muita coisa que eu passo aos estudantes o próprio orientador não aceita. O foco deveria ser ensinar o professor orientador. A universidade onde mais orientadores assistem meu curso é na Unicamp, uma das três melhores do país em pesquisa. É onde os professores assumem que eles não sabem de tudo.

A disciplina de metodologia científica não deveria ser o momento de aprender como fazer essa redação acadêmica?
O problema é que quem dá metodologia cientifica nem sempre sabe fazer redação científica, porque a redação científica tem um corpo próprio. O professor tem que estar atualizado, inclusive para saber o que está mudando no ambiente da comunicação, para entender como o texto tem que se ajustar com esta evolução. Metodologia científica não é ensinar somente como se constrói o conhecimento, mas também como fazer o conhecimento ser disseminado. A redação teria que ser parte da disciplina de metodologia.

Em sua palestra você enfatiza em vários momentos que a redação científica tem que ser mais acessível, não é mesmo?
A ciência tem que chegar nas pessoas. Você pode estar escrevendo para os cientistas, não para o público em geral, mas não é por isso que o texto tenha que ser hermético. Eu estou produzindo conhecimento para pesquisadores desta área aqui, mas eu tenho que pensar em pesquisadores de áreas paralelas que têm que entender este conteúdo também. O conhecimento tem que ser disseminado.
 



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