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Março
23
2017

Palestra abordou desigualdade de gênero e suas relações com outras formas de opressão

  Atualizada: 23/03/2017
As mestrandas Camila Camargo Ferreira e Daniele Lourenço Gonçalves ministraram uma palestra intitulada “Igualdade de gênero e a consubstancialidade das relações de gênero, classe e raça/etnia” na tarde desta quarta-feira (22) na Biblioteca Central UFGD. A palestra fez parte do Plano de Atividades Anual da Biblioteca e também compõe a programação relativa ao Mês da Mulher. 
 
Camila Ferreira, que cursa Mestrado em Sociologia na Faculdade de Ciências Humanas (FCH) da UFGD, começou traçando um histórico das lutas feministas desde as mulheres trabalhadoras russas no início do século XX até os movimentos culturais dos anos 60. A palestrante abordou, por exemplo, como a batalha de mulheres brancas de classe média pelo direito à liberdade sexual e a condições iguais às dos homens no mercado de trabalho diferia das lutas das mulheres negras e lésbicas que, não se sentindo completamente representadas, foram criando pequenas fissuras dentro do movimento feminista.
 
Camila então explicou o surgimento do termo consubstancialidade, cunhado pela socióloga francesa Daniele Kergoat, para ampliar a discussão sobre a relação entre os preconceitos de gênero, raça, classe e orientação sexual. “Não dá para falar da condição da mulher no singular, porque cada uma é marcada por diferentes situações de opressão em seu cotidiano. E também não é possível falar sobre a luta pela emancipação da mulher sem falar das desigualdades sociais geradas pelas dinâmicas estruturais da sociedade”, explicou a palestrante.
 
Segundo Camila, para Kergoat, gênero, racismo e capitalismo são sistemas de opressão com funcionamentos diferentes, mas que, ao se cruzarem, criam novas dinâmicas de opressão mais complexas. O conceito de consubstancialidade seria, então, uma ferramenta melhor para analisar a dinâmica social da desigualdade do que o termo interseccionalidade, mais comumente utilizado à época.
 
Camila terminou sua fala abordando o feminismo liberal – corrente que defenderia a emancipação pelo empreendedorismo e teria seu foco principal na conquista de condições iguais para mulheres e homens no mercado de trabalho. A palestrante indagou se apenas isso é o suficiente ou se deveríamos questionar a própria estrutura que possibilita as desigualdades sociais em outras esferas, como classe e raça. Ela enxerga no neoliberalismo uma organização que impediria o desenvolvimento de uma sociedade mais igualitária.
 
Em seguida, foi a vez de Daniele Gonçalves, mestranda em Antropologia também na FCH da UFGD, falar ao público sobre suas experiências enquanto mulher e professora indígena. Daniele falou sobre a quase inexistente presença ativa da mulher indígena na nossa sociedade e sobre o fato de existirem poucas pesquisas a respeito do feminismo indígena. Retornou ao conceito de consubstancialidade para ressaltar o preconceito por ser mulher, indígena e pobre. “Tudo isso somado faz com que as mulheres indígenas sofram mais”. Assim como Camila, ela responsabiliza o Estado e o sistema capitalista pela manutenção dessas desigualdades. Citou o desemprego, a falta de incentivo à agricultura, as poucas oportunidades de educação e a falta de políticas públicas para a população indígena. Essa situação criaria um ambiente propício para a disseminação de preconceitos em relação aos povos indígenas, como o de que seriam formados apenas por pessoas preguiçosas.
 
Cerca de 50 pessoas estiveram presentes na palestra, lotando a sala e superando em 50% a expectativa dos organizadores. Ao final do evento, as palestrantes foram presenteadas com um kit de livros da editora da UFGD e ainda aproveitaram para convidar todos os presentes a participarem do primeiro seminário de mulheres indígenas, que acontecerá no dia 29 de março.