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Novembro
26
2015

Abertura da Mostra Saberes Indígenas homenageia Marçal de Souza Tupã’Y

  Atualizada: 26/11/2015
A I Mostra Cultural Saberes Indígenas na Escola começou na última quarta-feira (25) e a solenidade de abertura contou com homenagem à família da liderança Marçal de Souza  Tupã’Y, assassinado em 25 de novembro de 1983, em Caarapó, fala dos representantes das instituições da rede Ação Saberes Indígenas na Escola e apresentações culturais do Brô Mc’s e do projeto de extensão 'Música Indígena no Palco', da Profa. Dra. Graciela Chamorro.

Aproveitando o momento de reunião de dezenas de professores indígenas no evento, a filha de Marçal de Souza, Edina de Souza, motivou os docentes a tomarem posse novamente da palavra “alma” e assim retomarem sua identidade, cultura e os conhecimentos tradicionais, fazendo renascer em seus alunos a vontade de viver e de ser índio.

Após 35 anos como professora, Edina de Souza está aposentada e contou que no início da carreira, ao tentar alfabetizar as crianças em sua língua materna, foi proibida pela supervisora da FUNAI e ameaçada de transferência. “Hoje vocês não vivem mais isso e o Saberes é mais um instrumento de luta”, afirmou Edina.

Para o professor Anastácio Peralta que está pesquisando segurança alimentar no Ação Saberes Indígenas, a “esperança do planeta é o conhecimento indígena” e como exemplo citou o conhecimento e tecnologia sobre o cultivo de milho, que tem mais de 2 mil anos e é feito sem veneno. “Os saberes indígenas são sabedoria e conhecimento para viver mais e viver feliz”, disse Anastácio.

Coordenador do Ação Saberes na Faculdade Intercultural Indígena (FAIND) da UFGD, o Prof. Dr. Neimar Machado de Souza destacou que o conteúdo da I Mostra Saberes Indígenas na Escola é patrimônio e propriedade intelectual das comunidades e não da universidade, agradeceu as lideranças indígenas, em nome do Nhanderu Valdomiro Aquino e da Nhandeci Roseli Concienza, pelo aprendizado que tem oferecido e pediu para que os indígenas insistissem em participar de eventos como esse, porque a presença deles colabora para que a universidade e seus membros sejam mais interculturais e menos colonizadores e monoculturais.

Representando a reitora Liane Calarge, a pró-reitora de Extensão e Cultura da UFGD, Rute Conceição, parabenizou o evento e as apresentações culturais da abertura, afirmando que proporcionam muito aprendizado e são um belíssimo trabalho.

Já a homenagem para família de Marçal de Souza  Tupã’Y  ocorreu com a leitura de um texto sobre sua vida, escrito e apresentado pela neta Cristiane de Souza Andrade e a entrega de flores para a filha de Marçal, professora Edina de Souza. Além disso, durante a solenidade de abertura, a maioria dos representantes das instituições do Ação Saberes Indígenas fizeram alusão a Marçal de Souza, ressaltando que a luta continua.

O diretor da FAIND, Antônio Dari, também elencou o nome de outras lideranças que foram mortas em defesa dos direitos indígenas, entre elas, Sepete Araju (1956), Marçal de Souza (1983), Samuel Martins (2001), Marcos Veron (2003), Dorival Benites (2005), Dorvalino Rocha (2005), Xurite Lopes (2007); Ortiz Lopes (2007), Genivaldo Verá (2009), Rolindo Verá (2009), Nísio Gomas (2011), Oziel Gabriel (2013) e Simião Vilhalva (2015).

HOMENAGEM A MARÇAL DE SOUZA TUPÃ’Y
Autoria: Cristiane de Souza Andrade, Guarani-Nhandeva, neta de Marçal de Souza 
 
“Após 32 anos de sua morte (25/11/1983), o líder Guarani Marçal de Souza Tupã’Y é lembrado pelos indígenas do Mato Grosso do Sul como um guerreiro que não foi derrotado. Hoje (25) pela manhã, no município de Antônio João, um grupo de professores indígenas e não indígenas estiveram em Ato a sua memória e contra a violência, no lugar em que Marçal foi brutalmente assassinado, aos 63 anos de idade, com cinco tiros, sendo um na boca, representando simbolicamente a tentativa de alguns setores da sociedade de calarem seu discurso em prol dos direitos dos povos indígenas.
Sua voz, porém, ainda pode ser ouvida nas palavras de outras lideranças que seguiram seus passos e continuam lutando não somente pelas terras que lhes pertencem por direito, mas também por dignidade e respeito.

A vocação para proferir discursos inflamados já era evidente desde que Marçal começou a pregar o evangelho, após a conclusão do curso de liderança cristã, em Patrocínio, Minas Gerais. Marçal atuou também como intérprete Guarani-Português, tendo a oportunidade de conviver com antropólogos e cientistas sociais, como Darcy Ribeiro e Egon Shaden, o que lhe proporcionou acesso ao conhecimento científico e cultural.

Mais tarde, afastando-se da Igreja Presbiteriana e discordando da postura da FUNAI, passou a viver intensamente suas raízes, afirmando: “Quero viver com meus patrícios, defender o sangue que corre em minhas veias”. Passou a denunciar os desmandos da FUNAI dentro da Reserva Indígena, a venda ilegal de madeira, erva-mate e gado, bem como o tráfico de meninas índias, que eram engravidadas por brancos e, como opção de fuga, escolhiam o suicídio. Marçal denunciou também a escravidão de mão de obra indígena nas lavouras. Esses e outros problemas apontados por Marçal ainda são muito atuais na nossa realidade de hoje.

Durante seu trajeto na luta em defesa das questões indígenas, Marçal de Souza participou de diversos seminários, congressos e conferências e na luta por melhoria nas condições de vida de seu povo, chegou até mesmo a discursar para o papa João Paulo II, em 1980, em Manaus durante sua primeira visita ao Brasil. Em seu discurso falou sobre a invasão dos territórios indígenas, disse também sobre os anseios da comunidade indígena brasileira e pediu para que o papa levasse seu clamor ao mundo.

Mas a luta que ficou como marco histórico foi o que custou a sua vida. Ao lutar pela demarcação de terra indígena, onde um pouco antes de sua morte, prevendo seu fim, teria dito: “Sou uma pessoa marcada para morrer, mas por uma causa justa a gente morre....”. Fala que hoje foi ressignificada por sua filha Edina de Souza: “Somos pessoas marcadas para lutar e por uma justa causa a gente luta”. A história do líder Marçal Guarani não será esquecida e sua voz não se calou, pois permanece na voz de muitos outros líderes indígenas que lutam pelos nossos direitos, luta que continua e que não se restringe somente a Dourados ou ao Estado de Sul-Mato-Grossense. Essa é uma luta de todos os povos indígenas e de todos os brasileiros. É a memória de um homem que lutou por direitos, pelo povo índio e pela raça humana. Marçal Tupã’Y vive!!!”

Informações 
Blog: http://imostrasaberesindigenasnaescola.blogspot.com.br
E-mail: asie@ufgd.edu.br
Fone: (67) 3410-2621